terça-feira, 22 de março de 2016

O mundo perdeu o Norte.

O mundo perdeu o Norte. A história diz-nos que o ser humano sempre teve a tendência de se auto-destruir. Mas diz-nos também que nunca como hoje, o fez com tanto despudor, com tanta loucura, com tanta desumanidade. Pensamos nas tragédias humanitárias do passado e achamos que fizemos caminho no que toca ao respeito pelos direitos humanos...mas depois, continuamos a violar a vida como se fôssemos donos disto tudo. Continuamos a condenar o terrorismo mas aceitamos naturalmente o aborto, como se não se tratasse também de uma forma velada de terrorismo contra uma vida que não se pode defender. Continuamos a condenar as desigualdades sociais mas quando ouvimos a notícia de que morreram não sei quantos seres humanos afogados porque tentavam salvar a vida, mudamos de canal para que a comida não caia mal. Depois, condenamos "os outros", essa escumalha que veio de longe, quando o terror nasce no coração da Europa, em bairros de gente que não tem nada a perder e que por isso, procura um sentido para a vida ainda que seja na morte... Quando os interesses económicos se sobrepõe a tudo o  resto, quando o dinheiro se torna o bem supremo, quando os poderosos subjugam tudo a seus pés, o desfecho, só pode ser este.  Vivemos pendurados na corda bamba entre dois abismos...o do fanatismo e o da ausência de Deus. Sim. Tenho a convicção de que a raiz de todo este terror está no antropocentrismo cego para o qual somos empurrados. Vivemos desequilibrados num relativismo doentio em que tudo é aceitável e discutível, desde que não mexa com a nossa vidinha sossegada. 
O mundo perdeu o Norte e após tantos anos depois de Jesus ensinar como se ama, a custo da própria vida, ainda não o encontrou. 

sexta-feira, 11 de março de 2016

O caminho da cruz

Que difícil é a humildade! Que difícil é morrer todos os dias...Morrer para o orgulho, para a vaidade, para o ego, para o brilho...Que difícil é não querer os aplausos e os elogios das multidões! Que difícil é o caminho do deserto Senhor! Que difícil!... Há uma tentação constante de agir em função dos aplausos, dos elogios, das palmadinhas nas costas...uma tentação constante de acreditar que está aí o sentido das coisas. Uma tentação constante de percorrer o caminho da glória. O caminho largo e alcatroado do sucesso...E depois, damos contigo a ensinares o caminho do deserto. O caminho do silêncio. O caminho da confiança. O caminho da cruz. Que loucura Senhor! Que loucura é esta? Que loucura é esta que me pedes todos os dias, a toda a hora? O caminho da cruz.. Não...não faz sentido! Não quero! Resisto. Tento inventar-te e encontrar-te noutro lugar, noutra rota. Faço desvios. Desvio o olhar para não ver a verdade. Deslumbro-me com outras coisas. Aqui sim sou feliz! Aqui, neste caminho largo, sem percalços. Neste caminho direitinho e seguro e plano e previsível e...vazio. Vazio e estéril. Vazio.
É então que olho para o caminho da cruz...turtuoso, íngreme, difícil! Tão difícil Senhor! Tão difícil! Tu sabes tudo! Sabes do que falo!...e mesmo assim, só me pedes para confiar. E para caminhar. Confiar. E caminhar. Percebo que há pedras que me magoam os pés. E que há chuva e vento. Mas há também flores! Muitas flores! Milhares de flores! E pássaros no céu e rios e montanhas e pessoas! Há vida! E há encruzilhadas que me permitem sempre voltar atrás. Mas já não quero. O peso do vazio estéril é muito mais difícil de suportar...o peso das minhas seguranças é um peso que não me leva a lugar nenhum. O peso da cruz afinal é o único que faz sentido carregar porque me impele à confiança de seguir. E confiar.