segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Nem todas as perguntas têm resposta. E ainda bem.

Crescemos a tentar encontrar explicações para tudo o que acontece. Crescemos a aprender que tudo tem de bater certo, que tudo tem de fazer sentido, que tudo tem de ter provas concretas, palpáveis e mensuráveis e que tudo deve ser controlado, monitorizado e avaliado. Até que um dia, percebemos que a vida não tem lógica. A vida é, desde o início, um perfeito e maravilhoso "acidente de percurso". E esta realidade, por vezes cruel, relembra-nos a nossa fragilidade (que é coisa na qual nos custa sempre muito pensar). E faz-nos perceber que esta mania de querermos controlar tudo, de querermos andar sempre em cima do acontecimento, stressados, angustiados, doidos que nem baratas, é uma perfeita perda de tempo (que aliás é bem escasso). Demasiadas vezes, não conseguimos encontrar explicações e isto, deveria deixar-nos tranquilos. Não é Deus que é "injusto" como tantas vezes oiço dizer. Nós é que queremos ser donos e senhores de tudo e sabedores de todas as coisas. Queremos ter uma resposta certa como se a vida fosse uma prova de múltipla escolha. Não é. 
O único que tem todas as respostas é Deus. Aceitar esta verdade, é o começo da paz do coração.  

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

No avesso da vida

No avesso da vida, és Tu a resposta. Quando tudo parece ao contrário, confuso, triste, sem sentido, és Tu a resposta. Afinal, o teu reino é um reino virado do avesso onde o rei não tem trono nem coroa e onde os primeiros são, aos olhos dos reinos de outros reis, os últimos. Onde para ganhar a vida é preciso perdê-la, onde a cruz é sinal de liberdade e não de condenação e onde os que choram são felizes. O avesso da vida, é sempre um lugar estranho e assustador, cheio de "porquês"cuja resposta é um silêncio que nos deixa sem resposta. O avesso da vida vira do avesso as nossas certezas, a nossa certeza de sermos donos do nosso nariz (e da nossa vida) e faz-nos perceber que afinal não somos donos de coisa nenhuma e que as coisas importantes, nunca são coisas. Nesse lugar virado ao contrário, não há ninguém, além de Ti, que posso fazer tudo parecer (e fazer) ter sentido. É por isso que essa Tua Palavra que desconcerta e baralha é, ao mesmo tempo, a única capaz de nos abrir à esperança...porque apesar de ser uma Palavra que não faz sentido é a única capaz de nos dar um sentido. É uma Palavra que foge à lógica do mundo e que nos ensina a olhar para o que não se vê e a escutar o que não se ouve e que por isso é alicerce  firme que nenhum  poder deste mundo, por maior que seja, pode destruir. 
No avesso da vida, nas "periferias" do que é suposto, encontramos-Te sempre, sempre à espera. Como Pai vigilante e atento que nunca se cansa de esperar e de acolher o nosso pecado, a nossa dor e a nossa vida tantas vezes ao contrário do que sonhaste para nós. 

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Hoje, é isto que Te trago.

Entrei. Fazia frio. Mais frio do que na rua. Consegui sentir o cheiro a humidade e a flores. Estava escuro. Não consegui sentir paz nem alegria por entrar ali (não é suposto sentir paz e alegria junto de Ti?). Ajoelhei-me alguns segundos e tentei falar-Te. Impacientei-me na minha tentativa. Sentei-me. Ouviam-se vozes ruidosas de alguém lá fora. Não me consegui sentir em paz. Tentei rezar outra vez mas aquele frio, aquela escuridão aquele ruído de fora apoderaram-se dos meus sentidos. Pensei que se calhar, estou a desaprender de rezar (isso aprende-se?). Depois pensei na dor de uma família que perdeu há poucos dias o único filho de maneira trágica. Pensei na dor de outra família que tem o filho mais novo com uma doença degenerativa e que progressivamente está a adoecer cada vez mais. E na outra família que vive o pesadelo de uma doença oncológica. Pensei no medo que o mundo vive por causa de uns quantos fanáticos que espalham o terror e a morte e que querem impor o seu "deus" a qualquer custo. Pensei na minha própria vida que está tão longe daquilo que Tu e eu sonhamos. Senti-me pequenina. Insignificante. Estúpida. Infeliz. Pedi que aceitasses isto tudo e desculpa, só me apeteceu correr dali para fora e levar-Te no coração que apesar de tantas vezes estar sujo e desarrumado, sempre deve ser mais quente que aquela Igreja. Há dias em que é difícil rezar com palavras bonitas. Hoje, aceita isto que te trago. Não é bonito, nem luminoso. É só escuro e confuso. Mas é o que tenho. É o que sou. Fico na esperança que possas torná-lo em alguma coisa muito bela. Tu podes sempre fazer coisas assim. 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Da serenidade

A serenidade vem com o tempo. O meu coração sempre foi uma montanha russa que me levava até ao céu e que no minuto seguinte, se despenhava a mil à hora até ao fundo do fundo. Acho que há coisas que não mudam e eu, a menos de um mês de completar trinta anos (trinta meu Deus!) continuo a sentir-me, muitas vezes, como se tivesse quinze e pudesse mudar tudo só com a minha vontade. Mas agora, a minha vontade serenou e eu já me previno com uns compridos contra o enjoo, não vá a montanha russa atirar-me lá para baixo outra vez. 
As dúvidas e as crises continuam. Mas serenaram. Falam baixinho agora. E se começam a querer levantar a voz, sou eu quem as cala porque chegamos a um momento da vida em que nos cansamos do barulho do próprio coração. Então, a aventura passa a ser desafiante, não pela quantidade de abismos que temos de saltar mas pela quantidade de vezes que conseguimos desviar a rota e trilhar caminhos planos sem grandes sobressaltos.
A serenidade vem com o tempo e o tempo começa a ter um sentido novo quando começamos a conseguir atravessá-lo gritando menos e escutando mais.  É o silêncio que nos serena o coração. O silêncio e a escuta do essencial.